ARTIGOS

30/11/2013

MARATONA MIZUNO UPHILL - Ricardo Nishizaki, o

Foi uma baita prova, como diria o Neto. E um baita evento, nunca um pangaré bem-tratado como eu (terminologia utilizada no livro Correria, do Sérgio Xavier, para definir o pessoal que corre entre 3h30 e 4h00) foi tão bem tratado. O deslocamento foi um pouco cansativo, mas não havia jeito de isso não ocorrer. O aeroporto mais próximo do local da prova ficava em Criciúma e vôo para lá, só de Viracopos. Imagina a operação logística, envolvendo gente do RJ, SP, PR, PoA, Balneário Camboriú e mesmo o corredor local, de Sâo Joaquim!! Fomos buscados de manhã em casa, levados até o estacionamento do Jardineira Grill, onde pegamos um ônibus que nos levou até Viracopos. Lá encontramos o pessoal do RJ e Ctba, que pegariam o vôo para Criciúma, onde chegamos no meio da tarde. Check-in, palestra com o Cleiton Conservani e o próprio Bernardo Fonseca (organizador, da X3M) sobre a série Planeta Extremo, últimas instruções, cervejinha com os amigos para dar uma relaxadinha e cama! 4h30 da manhã, todo mundo no café para check-out e deslocamento até Treviso, a uns 40 km, onde se deu a largada. Partimos, com friozinho e uma leve garoa. Ótimo clima para correr. Os primeiros 10km partiriam de 148m de altitude para chegar a uns 400m. Uma subida não muito pesada, mas com alguns trechos "biológicos". O início teve estrada de terra e o lamaçal da chuva deixou a gente bem porquinho. Sofri um pouco nesse começo, sai mais forte do que esperava, acompanhando o Frotinha. O Frota é um corredor mais forte que eu (43min/10k e 3h28/maratona), mas achei que ia dar. Tínhamos combinado de fazer a prova juntos, com o Sérgio Xavier, mas o gremista aguentou "segurar" 300 metros o nosso ritmo e logo se mandou. Não tem problema, "substituímos" o Sérgio pela Niva, uma corredora do RJ com fama de ser boa corredora. A troca foi, obviamente vantajosa, mas a menina disparava nas descidas que apareceram a partir do 10ºkm, enquanto a gente recuperava nas subidas. Passamos no 20º km com 1h52, se eu não me engano, e no km 25 com 2h20. Um ritmo adequado, o plano da prova não era nada plano, exigia, tinha muita quebrinha de ritmo. O Frota vinha me acompanhando, às vezes puxando, mas começou a reclamar de duas coisas: bolhas (nas descidas) e uma dor muscular nos posterior da coxa. Quando passamos no 26ºkm, ao menos o problema das bolhas desapareceria, já que começava a subida plena, de início bem discreta, administrável. O monstro da Serra do Rio do Rastro parecia não ser tão feio assim, mas a coisa começou a complicar pro Frota. Comecei a temer que ele não terminasse a prova e resolvi ir junto com ele, pro que desse e viesse. Havíamos ganhado uma boa gordura no começo de prova, terminar no tempo não tinha problema. Muita gente melhor do que nós estava atrás. O Sérgio Rocha passou a gente só na subida, no km 28. Passamos a intercalar corrida e caminhada, mas cada vez mais as corridas ficavam mais curtas para ele. A Niva já tinha seguido rumo. Na caminhada, eu seguia do lado, trotando (a 10min/km) para não perder aquecimento do corpo, já que começava a ficar frio. Além disso, eu estava muito bem, aquilo não iria me cansar. O Frota piorou ainda mais. Agora eram as costas que doíam por causa da inclinação constante, que começava a apertar. De repente, chegaram mais dois corredores em mau estado, o Sérgio Crespo de PoA e o Róbson, do Branca (3h24/maratona). Seguimos os 4 até o 37ºkm, mas se eles estavam ruins, o Frotinha tava pior. Parava a cada 500 metros para alongar. O incentivo, que era moral, passou a ser físico, comecei a empurrá-lo, ajudando a subir. A partir do 39º Km ele travou. Botei ele apoiado em mim e continuamos a subir, carregando literalmente o bicho. Agora, até mesmo os corredores mais lentos passavam pela gente. Jackie Reis (4h30/maratona), Bettina (estreante). A situação tava dramática, mas a gente tava muito perto para desistir. Finalmente o 41ºkm chegou, e com ele o final da subida. No plano, o Frota conseguia acertar a postura e se aprumar, não precisava mais do meu apoio para se locomover. E assim seguimos andando até a chegada, com 5h23. Eu, inteiro e feliz, missão cumprida! O Frota, desabando de dor e cansaço. E feliz, guerreiro, transformou o impossivel em possivel. Fomos 47º, 48º, sei lá. Não importa a colocação. Terminamos, sobrevivemos. Considerando que o Sérgio Rocha passou a gente no 28ºkm, quando já tinhamos perdido muito tempo, terminando a prova com 4h41, acho que eu faria um tempo parecido com esse, talvez até mais rápido. Eu realmente terminei muito inteiro a prova, a subida constante no asfalto, um terreno bom, não me dá medo. Acho que subiria bem, me valeria da minha experiência e força física e passaria bastante gente. Mas tudo isso fica no acho porque optei, acertadamente, por ajudar um grande amigo a realizar aquilo que tava no limite de suas forças. Consegui. A prova não teve nenhum desistente, nenhum corredor ficou no limite de tempo, não ia ser o Frota que ia cair. Como disse o tempo inteiro, "o Flu cai, mas você não". E ele não caiu. Sobre minhas contusões, talvez as sentisse se tivesse ido no limite. Mas não fui, e elas estão preservadas. Um pouco de dor, bem leve na entesopatia do isqueotibial (mas dói mais por ficar muito tempo sentado em avião, ônibus, etc) e nada no resto. Enfim, acabamos a prova, fomos para o Hotel, banho, piscina, degustação de queijos e vinhos, massagem, DJ, papo com os novos e nem tão novos amigos... a corrida foi boa e o pós-prova, melhor ainda!! É difícil definir o que foi esse final de semana. Aprendi, mais uma vez, que performance não é tudo numa prova. Se tivesse continuado e o Frota desistido, teria feito uma marca boa para mim, mas que não significaria tanto quanto a satisfação de ajudar um amigo que ia desistir, que não ia "sobreviver" e ser um survivor. Somos amadores, não ganhamos nada (ou quase nada) financeiramente com isso, o nosso interesse é na experiência de vida. E essa experiência eu nunca vou esquecer, valeu muito, mas muito mais do que qualquer outra coisa.