Há um ano atrás tinha em mente, como objetivo de 2007, fazer uma meia maratona abaixo de duas horas.
Me dediquei muito, ia a todos os treinos, me esforçava pra baixar o tempo, e estava realmente preparada para alcançar meu objetivo.
Decidi então fazer a ½ Maratona de Buenos Aires. Todo mundo me dizia que era um percurso plano, clima ameno, ideal para alcançar objetivos de tempo e que eu tinha todas as chances para realizar o meu. Convenci meu marido a muito custo, por que ele queria fazer a Meia do RJ, e lá fomos nós...
A viagem em si foi maravilhosa, mas infelizmente nem tudo saiu como eu esperava. O clima estava mais quente que nos outros anos, e a organização da prova deixou que faltasse água. Quando cheguei ao km-10 com 55 minutos e não encontrei água pela segunda vez, não pude tomar meu gel, fiquei totalmente abalada e isto prejudicou o meu desempenho no restante da prova. Tive que parar no km-15, já sentia sinais de desidratação, e meu marido que esteve todo percurso ao meu lado (apesar de estar muito melhor preparado, não me abandonou nenhum minuto) pegou água do chão de uma torneira de rua, pra que eu pudesse continuar até o fim. Apesar das dificuldades, cruzei a linha de chegada com 2:01:30 e chorei, chorei muito por saber que tinha condições mas que fui impedida, por motivos externos, de fechar meu ano como gostaria.
Mas nada como um dia após o outro, a persistência e a determinação... Ontem fui despretensiosamente fazer a Meia Maratona de São Bernardo. Não treinei como deveria, já que o mês de julho fizemos treinos de base, e não tivemos nenhum treino longo significativo... Fui para fazer uma Meia tranqüila sem pensar em tempo, já que o percurso é difícil, com muitas subidas, somente como um treino longo para a Maratona de NY que me espera no final deste ano.
O dia amanheceu chuvoso e não posso negar que pensei duas vezes em ficar na cama, curtindo o barulhinho da chuva na janela, o cobertor quentinho, mas saber que todos os meus amigos estariam lá, me deu forças para levantar e encarar o desafio. E claro, meu marido que me jogou pra fora da cama... rsrsrs
Comecei a prova tranquilamente, tentando manter um ritmo, mas oscilei muito, até por medo de forçar demais e não chegar ao fim... Quando tinha descidas baixava um pouco o tempo, nas subidas aumentava um pouco, mas de verdade fui fazendo uma prova tranqüila, tentando segurar o tempo... No km-6 senti minhas unhas começarem a doer, com a meia e o tênis molhado, com certeza as bolhas começariam a surgir, mas tentava desviar o pensamento, focar um ponto pra me distrair... Quando passei no km-10 estava com 56:20, pensei comigo “Estou bem, mas agora começa a prova... Agora vem as subidas... Não vamos desanimar... Vamos lá...” E o pé doendo,... “Esquece o pé”....
Quando cheguei ao km-16, antes da famosa subida da Piraporinha, encontrei o Gabriel com coca-cola, e ele me disse “Segura que agora vem uma subida bem forte”. Engraçado, mas acho que esperei tanto por ela que subi num ritmo bom, consciente, lembrando de todas as técnicas tantas vezes gritadas pelo Paulinho... “Levanta a perna, respiração lenta, passada ritmada, costas um pouco inclinadas, braços ditando o ritmo, concentração, olha pra frente” e quando cheguei ao km-18 dei um grito de alegria...
Mas a prova ainda não havia acabado.... Ainda tinha uma subidinha pra judiar, e claro, as bolhas, as unhas que doíam, mas depois desta subida final era só descida, esqueci do pé, peguei o ritmo e fui, chegando cada vez mais perto dos 21,... Quando passei ao lado do relógio, não olhei em quanto tempo estava a corrida, pra controlar a ansiedade, afinal tinha que ir até a curva pra pegar a reta da chegada! E pra minha surpresa, já nos últimos 100m, ergui a cabeça, olhei o cronômetro e vi que marcava 1:58:34, comecei a chorar...
O sonho de 01 ano atrás havia se realizado... Cruzei a linha de chegada sorrindo, chorando, e lembrei de Buenos Aires, do meu marido me dando forças e incentivo pra concluir a prova há um ano atrás, e me apoiando em todos os treinos deste ano e percebi como ter pessoas que apostam em você faz a diferença.
Consegui um dos meus objetivos, no tempo real fiz uma meia maratona em 1:57:55!!! Isto me custou umas 02 unhas do pé, algumas bolhas, mas nem a dor, acabou com a minha alegria! Queria comemorar, abraçar e sorrir pra todos...
Quando recebi o abraço e o beijo do meu marido, me dizendo que eu realmente era demais, ganhei meu verdadeiro prêmio! Só ele sabe o quanto isto significava dentro de mim!
Na corrida, não ganhei nenhum prêmio especial, apenas uma medalha como todos os outros participantes, mas com certeza a minha felicidade era de uma campeã. Agora é esperar pelo meu desafio de 2008, completar a Maratona de NY. Tenho certeza que será mais uma grande emoção.
Obrigada amigos, pela força e por me ajudarem a levantar todos os dias para os treinos, saber que vocês estão lá, me faz não desistir. Qbrigada Gabriel e Paulinho por toda a orientação técnica, paciência, broncas... E em especial, obrigada a você Helio por ser um marido tão especial e superar o meu stress, mau humor e dedicação aos treinos... E além de tudo isto me dar força sempre, me incentivar, mesmo quando eu reclamo de mim e o seu resultado foi pior que o meu... Sem você, nada disto teria sentido... Te amo!
Parabéns pra todos nós que acordamos com frio, chuva, calor, sem ninguém entender, e estamos sempre tentando melhorar um segundo no tempo, uma passada, completar uma subida sem andar... Nós realmente merecemos estas conquistas!!!