ARTIGOS

08/10/2006

MINHA SUBIDA NA SERRA DA GRACIOSA...

A Subida da Serra da Graciosa é uma corrida especial. Uma corrida daquelas que ou você ama (e pelo jeito muitos amam) ou você odeia. Eu fico com a primeira opção! Curitiba não parecia estar tão inclemente no sábado pré-prova, tava até sol (e isso até me deixou preocupado), mas no dia da corrida tudo voltou ao normal e um céu tradicionalmente nublado recobriu a cidade, embora não estivesse frio. A partida dos ônibus era entre às 06 e 07 da manhã e eu, ansioso, acabei indo no primeiro ônibus. Descobri pelo pessoal desse ônibus que eu estava entrando pro rol dos malucos: um tiozão carioca de 60 anos tinha feito todas as ""subidas do Cristo redentor"" e todas as corridas ""Ponte Rio-Niterói"", quando existiam, e agora usava a Graciosa como um treino para o Praias e Trilhas de Floripa. Um senhor de 50 anos de idade tinha percorrido correndo, a Estrada Real (mais de 1000km!!!). O cara do meu lado começou a correr um dia e, cinco meses depois, tava fazendo a sua primeira maratona, a de Curitiba, que é difícil, e com um tempo de 3h30!!! Pra não falar que na volta só tinha nêgo com troféu e o sue João, um tiozão lá de Curitiba que reolveu pegar um cacho de banana no meio da subida e trouxe pro ônibus (o cacho devia ter pelo menos uns 6 quilos!) É só maluco fazendo a corrida. E isso porque nem falei do gaúcho safenado, que tinha corrido todas as edições, com seus 60 anos... uma loucura, meinha gente! Bom, eu diria que a organização foi simples e impecável, para uma corrida com 700 participantes. Ônibus para o local de largada pontuais, 6 postos de água, 1 posto de gatorade quase no final da subida, 1 posto de banana e no final ainda tinha umas gurias bonitas fazendo massagem (embora eu, o azarado-mor, tenha caído justo com um cara...). Tinha gatorade na chegada também e um kit lanche honesto, além de uma medalha simples e suadamente linda e uma camiseta igualmente simples e bonita. Tudo por R$ 35,00. E uma coisa interessante: a marcação de quilometragem (que, na verdade, praticamente segue a da estrada) continha, também, o grau de inclinação média do quilômetro. Legal pacas!! Dizem que a corrida é dividida em duas partes: o início, com 14 km de subida constante e o outros 6km, com um sobe-e-desce que é plano na média. Na verdade a corrida começa com o 1º quilômetro praticamente plano e a subida começa discretamente no 2º quilômetro, ficando feio mesmo a partir do 3º. E o final da subida, pro meu desespero, não era no 14º km, era no 15º, o que me fez xingar todas as pessoas que eu conheço no mundo. A subida não é tãããão íngreme, e lá pelo quilômetro 8 eu até pensei comigo mesmo ""Castelhanos é pior"". Errei. Acho Castelhanos pode quebrar mais, até porque são 6 k de subida forte e 6 k de descida forte e num terreno complicado, mas na Graciosa tu sobe, sobe, sobe, sobe e não tem um platôzinho, um descanso! Até em Castelhanos tinha um ou outro trechinho mais plano que dava pra relaxar um pouco, na Graciosa não tem isso mesmo!! E com um monte de curva fechada que se tu corta sofre mais, se você faz aberto, não acaba nunda. Mas o clima estava extremamente agradável, numa temperatura ótima e com uma garoinha na medida exata pra refrescar (parecia aquelas máquinas de spray que tem no Ibirapuera). Bom, quanto à minha corrida em si, na verdade os preparativos já foram uma merda. Digo isso literalmente, porque tive uma caganeirazinha básica antes de começar a prova. Ainda bem que cheguei no primeiro ônibus e peguei os banheiros químicos ainda limpos!! Hidratei e la4rguei lá atrás, com a perspectiva de fazer uma prova bem lenta. Mas aos poucos, fui passando o pessoal, mantendo um ritmo confortável de uns 6, 6m30/km, até o km 8 mais ou menos. Aí, a subida começou a apertar um pouco mais (ou eu fiquei cansado, porque a inclinação se manteve, nos indicadores, nos mesmos patamares, entre 6 e 8º) e a partir do km 11 a situação começou a ficar desesperadora. Eu só andava nos postos d'água pra hidratar direito, e logo depois começava o meu trote sofrido. Acho que o km 12 foi meu auge de lentidão, fiz a 7m30/km. Ali eu já tinha passado uma caralhada de gente e tinha outra caralhada de gente na minha frente e, mesmo nesse ritmo tartauga, ainda conseguia passar um ou outro gato pingado. Todo mundo sofria, muita gente andou do 12 pra frente e até a moça da bike da organização tinha problemas pra subir, com aquele piso escorregadio. Quando chegou o 14, um alívio, logo desmentido. A subida acabava no 15!! Foi um dos quilômetros mais sofridos da minha vida, e quando terminou a subido veio uma descidinha de uns 600m pra soltar o corpo. Mas eu não conseguia descer direito! Tava tão cansado que na descida uns 10 caras me passaram, pelo menos a té a próxima subidinha. Sim, entrou num sobe-e-desce terrível, onde as subidas, embora evidentemente muito menos íngremes e longas que a da serra, eram extremamente sofridas, entremeadas por umas descidas em que dava pra soltar o rojão (na segunda descida eu já consegui desenvolver). A última subida, com a placa da Polícia Rodoviária, parecia um oásis no deserto, ela acabava em uma descida de uns 300 metros onde tu via o pórtico de chegada e eu cheguei voando, parecia aquela abelha do desenho animado (ta-li-ta-li-ta-lá, é fáicl decoláá...). E a corrida acabou, com um tempo de 2h08m43s quase integralmente composto de sofrimento e felicidade. Minha parcial de 10k foi em 1h07mim, portanto fiz os 10k finais em mais ou menos 1h01. Tempos horríveis em situação normal, mas adoráveis naquela corrida. Ano que vem, se der, estaei lá de novo, porque é uma corrida muito legal, bonita de se correr no meio das árvores e da mata atlântica e que teria uma linda vista, não fosse o nevoeiro constante que sobre a região. Sò não sei como vou fazer Toronto agora, mas aparentemente não tô com nenhum problema, exceto o cansaço da corrida (e olha que nem tô tão morto assim, no pós-corrida...).

Ricardo Nishizaki, atleta da equipe desde 2005.