Janeiro e Fevereiro trabalho de base. E em Março começaram os treinos específicos para a prova que se realizaria no dia 25 de maio de 2008, em Florianópolis – Sta. Catarina.
Às segundas-feiras, corrida pela manhã, geralmente tiros. À noite, natação. Terças-feiras pela manhã, quer dizer, madrugada, pois sempre começávamos as 5h, com treinos de ciclismo com trabalhos específicos, séries fortes, educativos. À noite, musculação. Às quartas-feiras, pela manhã, que também era madrugada, treinos longos de corrida. Estes sim, merecem destaque: Qual é o ser humano normal que acorda as 4h da madruga, em pela quarta-feira, pra sair de casa as 4:30h, e correr descendo a Giovanni Gronchi, é tido como suspeita trombadinha da Paraisópolis, passa rapidinho pela polícia que piscava o farol pra ver quem estava correndo, av. Morumbi, passa pela Praça Vinicius de Moraes, desce até o Bosque do Morumbi, vira a esquerda no Jóquei clube, passa pelas “primas” no Jóquei, rapidinho pra não ser abordada, vai até a USP, dá uma volta até completar metade da kilometragem estipulada na planilha, que podia ser, dar uma voltinha no CPUSP, ou volta de 6km, ou volta de 8km e aí fazer todo o caminho de volta, pegar a troca de turno das “primas”no Jóquei, subir a Giovanni Gronchi quase de quatro, pois é uma subidinha respeitável, e chegar em casa para tomar banho voando e ainda correr pra não chegar muito tarde no trabalho?
Um dia tranqüilo, principalmente quando o treino chegou a 34km. Era fácil trabalhar depois do almoço. Nem dava sono zzzzzzzzzzzzzzzzzzzz. À noite, mais treino de natação. Quintas-feiras, pra relaxar, trabalho de subida na Química, rua do lago. Fácil. As pernocas chegavam a tremer na subida de tanto queimar. Mas raçudos, não desistíamos nunca pois sempre havia uma palavra de consolo de um parceiro da equipe: “você ta achando que já foi tudo? ainda vai piorar mais. Vocês ainda não viram nada” Palavras doces como estas é que adorávamos hahahhahahahha, mas tudo bem. À noite, musculação. Sexta-feira pela manhã, OFF ou corridinha solta. Eu em particular me soltava na cama mesmo. Á noite, musculação e natação, para se preparar para um fim de semana tranqüilo e lite, com transição aos sábados, bike + corrida e os maravilhosos domingos de muita alegria em família, quando saímos de casa as 5h, 5:30h, para os treinos longos de bike que chegaram a 160km + trote depois da corrida, que ás vezes nem sentíamos as pernas. Não por estarmos muito bem condicionados, mas porque já estávamos tão “adrenalinados” que a corrida tinha que ser rápida para pelo amor de Deus, terminar logo.
Aí, telefonemas mil para esposas, marido, dizendo “já terminei o treino”. E a resposta era: “que bom, são só 13h e a festinha de aniversário do amiguinho do seu filho é as 14h, é bom correr” hahahahahhahahha, E assim foi. Cada um com seus problemas, com suas dificuldades no trabalho, algumas vezes matávamos a tia Maria ou a tia Josefina ia fazer hemodiálise em plena quarta-feira para podermos cumprir a planilha. E quando não conseguíamos, era uma cobrança terrível. Dos técnicos? Não, jamais. De nós mesmos. A dedicação era total. O compromisso individual cada um consigo mesmo, com o desejo de realizar o seu grande sonho no esporte. Esse nome pesava IRONMAN. Esse nome assustava as vezes. A ansiedade era algo que não conseguíamos disfarçar. Com exceção do Wilson e Brunetti, éramos os outros cinco, Lenise, Joca, Parise e Douglas, estreantes na prova.
Quinze dias antes da prova. Começa a contagem regressiva.
Muita troca de e-mails. Uns de sacanagem, outros com palavras de apoio, outros com dicas técnicas, mas não passávamos um dia sem nos falar. Mesmo que tivéssemos nos encontrado no treino, durante a semana, no trabalho, a qualquer folga, entre uma reunião e outra, o e-mail rolava. Até quando estávamos fora da empresa, mas a trabalho, por exemplo o dia em que o Parise levou uma canseira de um cliente e enquanto o esperava por mais de uma hora, nos escrevia e-mails desesperados pensando no treino que poderia estar fazendo ao invés de estar lá, parado esperando.
Não tinha outro assunto. Era só Ironman. Éramos egoísta demais para falar de outro assunto. Era quase impossível. Quando não falávamos, pensávamos.
Semana da prova. Todos os amigos da equipe desejando boa sorte, amigos no trabalho, e-mails de todos, telefonemas, todos torcendo por nós.
Douglas, Wilson e Parise foram de avião. Brunetti foi de carro na quarta-feira. E na quinta-feira fomos de carro: Joca, Sabine (esposa do Joca) e Daniel. No outro carro Sidney, Lu, Eduardo Verneziano e Adriana (esposa do Edu). E no terceiro carro, Eu, Lenise, Márcio (meu maridão) e meus maravilhosos filhos Tabata e Giovanne (Gigio). Combinamos nos encontrar as 4:30h no primeiro posto da estrada - Regis.
Começou a confusão: Joca voltou pra casa pois havia esquecido as sapatilhas e eu, havia esquecido a carteira de identidade. Meu Deus do Céu!!!! É muita ansiedade. Mas enfim, lá pelas 6:30h em um determinado ponto da estrada conseguimos nos encontrar e tomar o café da manhã. Abraços, beijos, muitas risadas e bom, vamos embora, temos muita estrada pela frente. A idéia era parar só na hora do almoço mas a mulherada não agüentou: precisávamos ir ao banheiro. Para um, para dois, param os três. Pronto vamos embora. Não demorou muito aconteceu um acidente na estrada e parou tudo. O Sol já estava rachando. Todos fora do carro. E a fome? Sempre com fome. Isso já não era novidade entre nós. Sabine com uvas, eu oferecendo barrinhas e bananinhas, água e de repente.... mas o que o baiano está fazendo? Sidney tirou a bike do carro e disse que ia pedalar para ver o que estava acontecendo. E lá se foi o nosso querido baiano Sumiu. O trânsito voltou a andar e só fomos encontrá-lo bem depois. Tadinha da Lu. Já estava achando que alguém havia seqüestrado seu amor. Calma Lu, ninguém leva tranqueira. Fique sossegada. Palavras de consolo dos amigos.
Paramos para almoçar em um restaurante por kilo. O dono realmente lucrou. Conseguem imaginar o peso dos pratinhos das crianças, né!
Chegamos em Floripa !!!! Já na estrada podíamos ver as pinturas no asfalto, em amarelo, dos km que íamos pedalar. Tudo em Floripa se preparava para a prova. Aquilo era um sonho, um sonho que estávamos realizando.
Estavamos quase chegando quando separamos os carros: Joca para a casa que havia alugado com Wilson, Douglas e Daniel em Jurerê e os outros dois carros, Sidney e Lenise para Daniela onde ficaríamos em uma pousada. Logo passaram por nós Leopoldo (Leo) e Fernanda. Ficariam em uma pousada na mesma rua que a nossa.
Acomodamos tudo e fomos para a “feira”do evento. Que maravilha. Camisetas, bikes, bonés, tudo de bom,. E então, fomos nos encontrar com o restante da turma na casa em Jurerê. Que maravilha. Estavam todos lá com suas famílias. Joca a milhão já no fogão, pois não sei se vcs sabem mas ele é um excelente chefe de cozinha. O cara não é bom só no triathlon não. Hahahhahahaha Alguns foram dar uma corridinha pela cidade, outros comer, supermercado e depois cama todo mundo. Precisávamos descansar.
Na sexta-feira cedo combinamos de nadar um pouco em Jurerê Internacional onde seria a prova para depois irmos para o congresso que seria as 10:30h. Quando acordei e abri a janela para dar bom dia a minha baby look magrelinha, que havia deixado na varanda, meu Deus!!! Olha para um lado, olha para o outro, e gritei: “LU, ROUBARAM MINHA BIKE! ROUBARAM MINHA BIKE!” Foi aquela confusão. La de cima vi o dono da pousada que olhava paralisado para mim. E eu gritei: “Ela estava aqui, bem aqui, não é possível” Comecei a entrar em pânico. Antes que eu fizesse um vôo rasante em cima do dono da pousada e me atirasse da sacada para matá-lo, pois ele seria a minha primeira vítima, o baiano, trombadinha, lasarento, sem coração, ria até não poder mais, e vizinho de sacada e de quarto, devolvia a minha bike. À noite, eles haviam voltado do jantar depois de nós. E quando viu minha bike na varanda achou perigoso e a guardou. Colocou-a na porta do meu quarto. Pela manhã saiu para pedalar e como eu só levantaria mais tarde, quando voltou do pedal a magrela ainda estava lá. Guardou-a novamente. Pensei que morreria do coração. Isso não se faz. A devolução só foi rápida pois o Sidney realmente ficou com medo que eu matasse o dono da pousada. Hahahahhahahaha
Fomos então para Jurerê internacional. Encontramos amigos no caminho, muitos atletas correndo pelas ruas, muitos pedalando, tudo girava em torno do Iron. Faixas, cartazes, tudo era Iron.
Engraçado foi vestir a roupa de borracha na praia ao lado de pessoas normais, sob um Sol de 30ºC, que não é o nosso caso, que passeavam de trajes de banho normais, que também não era o nosso caso, bikini e sunga, enquanto nós vestíamos as nossas roupas de mergulhadores, pois era isso que as pessoas falavam. A água estava ótima. Fria mas ótima. Pouca correnteza, tudo ótimo. Depois de nadarmos, aquela baixaria igual cortiço, pendurando as roupas nos arames e madeiras, tipo uma cerca que havia na praia. Coisa de farofeiro mesmo. Só faltaram os prendedores. Mas tudo bem. A alegria era tanta que para nós pouco importavam os comentários. Aliás, o que mais queríamos era sermos comentados mesmo hahahahahhahahahahha Estávamos nos achando o máximo !!!!
Depois disso fui retirar o meu kit. Três sacolas: natação,que deixaríamos vazia no cabide pois a mesma seria entregue para nós na saída da água para guardarmos a roupa de borracha, touca e óculos e a organização a recolocaria no cabide; bike – onde colocaríamos as roupas da transição natação/bike = para quem quisesse, ou simplesmente gel; corrida = também para ser entregue na transição bike/corrida. Camiseta, chip preso em uma tornozeleira . Ficha e declarações a serem assinadas. Parecia um contrato de emprego novo. Claro que tirei fotos lá, né!
Fomos então ao congresso técnico. Era gente pra chuchu. Só de atletas, 1.250, mais os anexos...... encontrar amigos de outras equipes, amigos de estrada, de USP, de clube, todos ansiosos, felizes, tensos, tudo junto. No congresso, todos os detalhes de sempre: vácuo proibido, matar adversário proibido, seqüestrar bike do adversário proibido, e assim por diante. Fomos depois almoçar em um restaurante por kilo que foi uma tristeza. Tristeza para nós pois para o dono do restaurante uma alegria só. Conseguem imaginar algum de nós comendo menos de 1kg? Não, né! Na porta do restaurante, claro, havia um camelô vendendo manguitos, chaveiros, adesivos,bonés, que também fez a festa. Quem resistia ás tranqueiras que ele vendia? Compra, compra, compra tudo. Combinamos depois do almoço ir à casa que o Joca, Douglas, Wilson e Dani haviam alugado, fazer uma surpresa para o Daniel. Era aniversário dele. Dissemos a ele que iríamos tomar café com o pessoal. Como ele é louco por café, foi fácil convencê-lo a ir para lá. Quando chegamos, um bolo o esperava com uma vela nada simpática, é verdade, vermelha, que mais parecia de macumba, mas era o que tinha. Ao entrar todo mundo começou a cantar parabéns. Tadinho.......... do jeito que é tímido, ficou super sem graça. Foi muito legal. Ele merecia esse carinho de todos nós.
Douglas ficou gravando o depoimento de todos com as expectativas em relação à prova. Muito emocionante. Só besteiras, é claro. Inclusive a promessa de dar uma volta do quarteirão pelados após a prova. Não entrei nessa não, viu! Hahahahhahahahahaha o problema era decidir quem iria ficar na frente e quem iria atrás. Kherlakian disse que toparia, mas seria o último da fila. Folgado,né não! Mas como ele era a nossa Elite, os outros concordaram hahahahahhahahahaha Minha filha Tabata é nadadora e não podia ficar sem treinar pois estava em peródo de competição. Então, Sexta-feira à tarde a Lu e a Tabata foram treinar natação na UNISUL, onde Carlos, técnico do Xuxa, dá treinos a atletas de ponta, olímpicos. É mole ou quer mais? Um dos maiores compelxos da América Latina. Tudo novinho, em Palhoça. Lu foi como super acompanhante e representante técnica. Não vou contra a vocês em detalhes que a Lu, depois de mais de meia hora de treino disse à Tabata que achava que a piscina tinha mais de 25m. Qual não foi a sua surpresa quando ela respondeu: ‘Lu, essa piscina tem 50m”. Tadinha, acho que fez 3.000m de educativos, mas tudo bem. É por isso que ela é a nossa melhor nadadora da equipe Trilopez. Não liga não, Lu, o pessoal no Sul faz terinos longos mesmo hahahahhahahahahahha brincadeirinha, heim!
Enquanto isso fui dar uma voltinha de bike com o Rafael, pra conhecer um pedaçinho do trajeto e soltar as pernocas.
Combinamos então de nos encontrar à noite no jantar de massas.
Sexta-feira à noite então, lá estávamos nós. Um bando de famintos. Que loucura. Minha N.S.Aparecida !!!!! Um galpão enorme, com mezanino e tudo, lotadíssimo de pessoas, muito mais que as 1.200 que competiriam no domingo, e mesas enormes com vários tipos de massa, molhos, frango grelhado, saladas e muitas frutas, água, sucos e refrigerantes, e pão que não podia faltar, né! Quando o jantar foi liberado, era uma coisa de outro mundo ver o tamanho do prato dos atletas. Isso sim é que não era normal. Comemos muiiiiiiiiiiiiiiiiito. Foi entregue também um cheque de R$ 38mil para a APAE, dinheiro esse arrecadado com o leilão de 50 vagas. Muito legal.
E no final do jantar, uma grande festa com uma pequena escola de samba com direito a mulatas e tudo. Teve gente que ficou babando com os manguitos das mulatas. Ah, fala sério, heim! Sou mais os meus manguitos hahahhahahahahaha
Não sobrou nada nas mesas. Parecia que um furacão havia passado por lá. Que horror. Hahahhahahahaha só contribuí um pouquinho, ta!
E então, todos dormir pois de sábado para domingo todos sabíamos que ia ser difícil pegar no sono.
Sábado pela manhã um pouco de praia, relaxar e a Lu e a Tabata foram treinar novamente. Desta vez, com a metragem correta.
Para o pessoal do Staff, Lu, Sidney, Leo, Fernanda, Edu, Adriana, Tabata, Gigio, Márcio, um brake pois trabalhariam muito no domingo. Foram às dunas na praia de Joaquinas. Meu Deus do Céu. Eu não fui, mas fiquei sabendo de tudo. Lu, Penélope charmosa, de bikini e vestidinho. Não deu certo. Precisou conseguir uma bermuda com a Tabata para mostrar suas habilidades para descer as dunas. Era capote pra tudo quanto era lado. Gigio mais parecia uma coxinha empanada. Sidney só observando, só observando os capotes de todos, quando depois de muita insistência da galera, resolveu dar uma exibição. Ouvi dizer que o baiano arrasou na apresentação hahahhahahahahha Não é que o baiano sabe descer as dunas!!!!! O difícil era subir tudo aquilo. Mas sobreviveram, afinal, precisaríamos muito do apoio deles no domingão.
Enquanto isso, nós atletas, almoçamos e à tarde fomos levar as magrelas e roupas para a área de transição.
Havia uma fila enooooooooorme na rua, um verdadeiro desfile de Ferraris de bike. Uma mais linda que a outra. Os atletas se encontrando, trocando olhares, procurando saber quem seriam os seus adversários, olhos brilhando, mãos soando.
Haviam mecânicos na entrega da bike para checar se o seu capacete estava bem ajustado à sua cabeça, adesivos colados com o número da prova corretamente, se os freios da sua bike funcionavam, condição de rodas e pneus e condição geral da bike. Só depois dessa checagem, eles fixavam a placa com o nosso número na bike.
Ai que dó, que dozinha de deixar a magrela no sereno, na noite......... tadinha........ não estava acostumada a dormir fora de casa sozinha....... seria que passaria uma boa noite? Well, tudo arrumadinho, sacolas nos devidos cabides, corredor onde deveria pegar a bike devidamente mentalizado, e agora era só voltar para a pousada, separar as garrafinhas, gels, etc e dormir.
Dormir......... que noite longa foi aquela. Será que alguém conseguia dormir? O relógio não andava. O sono não vinha. Não teve jeito. 03h levantei da cama e fui tomar café da manhã. É claro, comer, né! Pois não foi isso que mais fizemos nos últimos três meses além de treinar? Então....... e depois, derrubar o povo da cama. O meu staff particular: Gigio (11 anos), Tabata (14 anos) e Márcio o maridão herói.
Uma madrugada linda, céu de brigadeiro, o Sol nascendo devagarzinho lá no horizonte e as ruas bombando de gente. Pessoas andando de maiôs, bermudas, garrafinhas na mão, um agito total. Cheguei no local da prova às 5h e claro que de cara encontrei um bando de malucos, o povo da Trilopez, né, com apito, pandeiro, corneta, berrando feito loucos. Sabine, esposa do Joca havia levado todos os bagulhos pra fazer barulho. Era pura energia. Se juntou aos meus filhos e ao meu marido, e aos outros, Deise, Daniel, Alessandra, Dani, Isa, Lívia, Edu, Adriana, Fernanda, Leopoldo, Sidney, Lu, Roberat (namorada do Rafael), Kalassa, Fernanda, (acho que não esqueci ninguém) enfim todos estavam lá. Podia não ser a maior torcida, mas era a mais barulhenta e a mais animada.
Subíamos em um grande caixote para sermos numerados. Uma pessoa para numerar a perna e outra para numerar nossos braços. É mole ou quer mais? Fotos, fotos, claro, mais fotos. Rapidinho. Não tinha demora. A quantidade de pessoas no Staff era enorme.
Entramos então na área de transição para guardar o restante dos pertences, garrafinhas e fazer os últimos ajustes na bike do tipo calibrar os pneus e tudo mais. Pronto, agora não podíamos mais entrar e nos vestimos para a natação. Meleca o corpo com creme, puxa que puxa a roupa de borracha, e nossa............. sabem aquela parte do filme do Batman quando tem um bando de pingüins juntos entrando na água? IGUALZINHO !!!!!! Com raras exceções, todos de roupas pretas e toucas brancas. Muito engraçado. Engraçado nada. Era tensão pura.
Entramos na água pra tentar quebrar um pouco a tensão. Estava deliciosamente gelada. Um frio suportável e tudo muito, muito, muito lindo. O céu estava maravilhoso. O Sol ia surgindo bem devagarzinho. Um T !!!!! Beijos nos familiares e amigos, muita troca de abraços e risadas tensas.
Houve um momento em que estávamos em uma rodinha na praia, um olhando pra cara do outro e arrastando os pés pra dentro da roda empurrando a areia molhada. Pronto, que alivio. Um chichizinho ia bem pra relaxar e esquentar, né não ? hahahahahhahaha
Todos olhando para o mar, esperando a largada, quando passaram alguns carinhas erguendo placas com os dizeres: 5 MIN Muito engraçado. Eles iam e vinham correndo lá pertinho do mar. O que era aquilo meu Deus ? Faltavam cinco minutos para o início da prova. Helicóptero no ar, caiaques pra tudo quanto era lado, Jet skis, muitos flashs, música, Galvão, o organizador da prova no microfone desejando boa sorte a todos, um frio na barriga, estava chegando a hora, uma tremedeira, risadas, e por alguns instantes me concentrei, baixei a cabeça e consegui, num silêncio total interno, agradecer a Deus por ter chegado até lá, agradecer minha saúde e todos os meus amigos, rezar um Pai Nosso e uma Ave Maria e pedir que ele nos acompanhasse e guiasse a prova toda. Pronto!
BUM !!!! BUM!!! BUM!!!! Fogos!!! Foi dada a largada. Me arrepio até agora só de lembrar desse momento. É muito emocionante. Só quem estava lá. Muitos flashs, aplausos, gritos, e muita porrada na água. Empurra daqui, empurra de lá, e para quem ficava na praia parecíamos gaivotas invadindo o Mar. Deve ter sido uma cena maravilhosa. Muita emoção mesmo!!! Começou a prova. A água estava deliciosa. Fria, mas muito boa. Muita correnteza é verdade, mas tinha que encaixar o nado. 4 x 1, lá fui eu no meu ritmo. Nem a primeira, mas também não fui a última. Comecei então a me colocar na prova. Lembrei então de um dos últimos e-mails do Kherlakian: “imaginem-se durante o Evento...nadando... com braçadas ritmadas,uma bóia se vai...duas e três e vc já está alí,na transição” Pois é, e assim foi. Passei a primeira bóia................. “sai, sai, num empurra não, meu!!” Mais porrada. Não é que tinha o maior trânsito em volta da primeira bóia? Isso significava que eu não era a última. Encaixa de novo, e pronto. Chegamos na praia. Tirei feito um mágico que tira da manga uma carta, um gel, da manga da minha roupa de borracha. TCHÃN !!!! Mal coloquei os pés na areia e ouvi os gritos: “MÃE! MÃE! VAI LÊ !”” Que bom ouvira aquilo. Ainda estava viva hahahahhahahahhaha rapidinho tomei um copo de água e vamos pro Mar novamente. Só faltavam 1.900m. Alguém mudou a bóia de lugar!!! Quem foi o engraçadinho ? Para não pararmos nas pedras ou trombarmos no pessoal da Elite que já voltava, por conta da forte correnteza, nos forçaram a fazer uma “barrigada” no M que faríamos no mar. Ou seja, nadamos aproximadamente 200m à mais. PRONTO! Pés no chão novamente. E a torcida lá, firme e forte: “VAI, LÊ!! AGORA É SÓ SOCAR NO PEDAL!” Engraçadinhos, né! Apenas 180km. Tudo bem. Pra quem treinou 160km, 20km a mais, era só soltar. Tapetão no chão, um bando de gorilas enormes, levanta as pernocas pra cima e VUPT !!! Sem dó eles arrancam nossa roupa e gritam, VAI !!! Lá vai você guardar suas coisas na sacola de natação e pegar a sua sacola de bike. Entro na tenda que era o vestiário feminino e um cara entra atrás de mim. EPA, HEI, PSIU, PRA LÁ, NÉ! Coitado, o cara tava zonzo, zonzo. Ou era tarado, ou gay ou ia capotar lá mesmo. O cara não conseguia se equilibrar.
A torcida ficava a milhão esperando-nos sair das tendas. Leo, esse maluco que entrou a pouco na Trilopez, é outro totalmente maluco. Um dos últimos ou o penúltimo atleta a sair da água foi um Argentino, que quase morto se arrastava para ir ao encontro da sua bike na transição. Sabe o que o figura fez? Seu nome era Pablo. Aí ele gritou a famosa pergunta:""Pablo, quem foi melhor Biro Biro ou Maradona?"" Foi uma gargalhada só. Imaginem como isso incentivou o cara, né! hahahahhahahahahahha
Isso sem contar os milhares de nomes que eles gritavam.
A passagem quase despercebida do Gustavo no retorno dos 90km; a entrevista que a torcida Trilopez deu no SBT; a musiquinha "" o Joca cadê vc, eu vim aqui só pra te ver"", Sabine gritava feito maluca pois o Joca demorou mais que um minuto pra se trocar hahahahhahaha, coitado. Cada mico que passávamos. A corrida de 50m na ida e na volta do retorno dos 90km.. a argentina desistente que não voltou mesmo com os apelos de Tabata, Luciana, Fernanda e Deise.. Essa é outra figura. Deise de vez em quando se perdia do pessoal, parava em uma árvore e ligava para o celular de alguém perguntando: “kd vcs? Em que árvore vocês estão?” E os outros estavam em baixo de uma árvore exatamente na sua frente.
Fizeram amizade com uns chilenos que não entendiam patavinas do que falavam e eles mesmos não entendiam metade do que eles falavam;
A dançinha do Douglas no começo da maratona; esse é outro maluco que tem um super alto astral.
As 218 garrafinhas de água que o Gigio bebeu Tava de ressaca meu??da próxima vez o Leo disse que levará um garrafão de 20 litros pra ele. Tadinho. Não é fácil ser Ironboy, filho de Ironwoman, né! hahahhahahahaha Tem que hidratar, tem que hidratar. Coitado, só ouve a mãe falar isso . Então ele fez, né!
Vamos lá então. Transição lenta, com calma, se enxugar direitinho com toalha, até que fui rapidinha e ................ magrela, magrelinha, lá fui eu ao encontro dela. Como sou extremamente hábil com as sapatilhas, claro que fui andando feito uma gazela saltitante ao encontro dela, pois não sei calçá-las já na bike. Pronto, início da segunda etapa. Beber um pouquinho de carboidrato, gel, encaixar o bumbum no selim, e lá vamos nós para mais 6h de prova, no mínimo. Mais um bate papo com Deus, só pra Ele não esquecer, né, que nenhum pneu furasse e nem um tombo tomasse. Uma vista maravilhosa. Uma parte do percurso era na Orla. Que coisa maravilhosa. A cada cinco km havia uma marca no asfalto, pintura em amarelo, o símbolo do Ironman e a marcação da quilometragem. Isso de 5 em 5km até os 180km. Duas subidas grandes e duas descidas a cada volta de 90km. Túneis, retas, curvas, e sei lá em que momento, estava eu na Orla, quando ouço lá do outro lado da avenida, há mais de 50m de distância, um grito: “TCHUTCHUQUINHA !!!!!! “ Hahahahahahhahahahahaha, era o Douglas. Esse cara não existe. Ele conseguiu me achar e gritar como fez em Brasília. Maluco de tudo. Devia estar voando na bike. Encontrar alguns amigos no caminho, Brunetti, Parise, foi ótimo. O percurso muito bom.
Também encontrei com Rafael, meu grande companheiro dos treinos de natação da Runner, outro maluco que terminou a prova muiiiiiiiiiiiiiito bem, que também estava do outro lado da avenida: “Pedala forte Lê!!! Vamos Lê!!!!” Ficou na mesma pousada que ficamos e ganhou uma torcida de presente, pois eles torciam por todos, sem exceção, e com muita euforia.
As subidas eram pesadas. Lembro-me que nas duas últimas, o Sol rachando, muito, muito, muito calor, pensei que sairia fogo das coxas, de tanta força que fiz pra subir. Passei vários atletas na subida, mas aquele medão da descida, os mesmos me passavam. “Solta o breque, Le, solta!” Fazer o que, né! Mas tudo bem, na reta nos encontrávamos novamente. Alguns não, outros sim. No final da primeira volta de 90km, de longe ouvia os gritos, apitos, cornetas, pandeiros da nossa super torcida. Vocês não tem idéia do barulho que eles faziam. E sei lá de onde surgiam que depois de alguns segundos eles apareciam novamente do outro lado da avenida. Uns malucos. Era muito, muito, muito bom ver todos eles lá. Em um determinado momento no percurso da bike vi de longe o Daniel e o Sidney de bike gritando, “VAI LE, VOCÊ ESTA MUITO BEM, VAMOS LÁ !!!! “ Só faltavam mais 90km. Treininho básico de domingo. Força, muita força. E.............PRONTO! YES !!! Entregar a bike. A família toda lá novamente, torcida em peso, todos amigos berrando feito loucos. Eles são ótimos. A sensação é muito engraçada. Você entrega a bike e parece que suas pernas continuam pedalando. É difícil andar ou tentar trotar até a sacola para se trocar para a corrida. Calma, calma, muita calma, tira bermuda, coloca shorts, bonezinho, água, gel, e lá vamos nós. VAI LÁ MÃE!!!! AGORA SÃO SO 42KM. ISSO É BABA PRA VOCÊ!!! Gigio é uma graçinha, né! Um filho desse ninguém merece. Só 42km ? Pelo menos ainda estava dia. Sabia que ia terminar à noite, mas pelo menos deu pra correr uma parte me achando, ainda de óculos escuros hahahhahahahahahaha. E saber que os campeões já haviam terminado a prova. Azar deles, pensei eu. Curtiram por menos tempo a prova. Vou curtir a minha até o talo, certo? Lá fui eu. Encaixei a corrida e fui no meu ritmo. Que maravilha. No nosso número estava escrito também o nosso nome. As pessoas gritavam o seu nome na rua pelo percurso todo. Quase atropelei uma senhora pois não enxergava o meu nome e quando a vi estava na minha frente. Pode uma coisa dessas?
Na primeira volta, de 21km, depois de sei lá quantos km, demos de cara com uma ladeira. Conhecem a ladeira Porto Geral? Subida da Biologia era coisa de criança perto daquilo. “quem foi o infeliz que colocou essa p........aqui?” não, aquilo não era normal. Ninguém subia aquilo correndo. Não dava, quase não dava para descer na volta, muito menos subir. Um gringo ao meu lado parou, olho pra cima e disse “my God, Fuck !!! Fuck Everybody!!” Pois é, gringo, vamos pois ainda tem muito asfalto pra correr. E lá fomos nós. Era muita gente na rua. Muita torcida. O caminho todo. Claro que encontrei com um camelô vendendo munhequeira no caminho, né! Quem? O Douglas, é claro. Já estava com as duas munhequeiras e passou com elas quase nomeu nariz dizendo: “vem pegar, vem, vai querer? Vem buscar!!!” É ótimo ter amigos assim, o fogo é não ter forças pra correr atrás e derrubar, mas tudo bem. Aquilo não deixava de ser um incentivo pra terminar a prova. Se ele já havia conseguido, eu também iria buscar as minhas. Consegui encaixar minha corrida direitinho e no final dos 21km estava inteira. Estava muito bem mesmo. As munhequeiras a que me referi eram entregues: uma, cor de laranja quando você terminava 21km e outra, verde limão, quando você terminava a primeira volta de 10km. Após a volta de 21km encontrar o povo novamente. Que maravilha. Minha filha Tabata toda preocupada com um agasalho nas mãos perguntando se sentia frio, se queria vestir. Mas eu estava muito elétrica pra sentir frio. Todos gritando, todos incentivando. Era aquilo que nos fazia terminar a prova, pois o cansaço, a exaustão já começava a dar sinais de vida. As dores começavam nas pernas e o final se aproximava. Quando vi a menina apontando para mim a primeira munhequeira, a laranja, mais parecia ver uma mexerica na minha frente. Que alegria. Corri quase um km olhando pra ela, feliz da vida. Faltava pouco. Encontrei meus filhos, marido, amigos, gritando feito loucos, muito torcida, e vamos lá.
Anoiteceu rapidinho. O frio chegava, a adrenalina a mil, muita alegria e vontade de terminar. O sonho estava pra se realizar. Encontrei Parise e Brunetti na corrida. Passei um, passei o outro, estavam todos vivos. Isso significava que todos meus amigos terminariam a prova e todos realizariam seus sonhos. Isso me incentivava, isso me dava forças. Bolo, bolacha, bisnaguinha, frutas, sopas, tudo que tem direito na corrida. Acho que você termina a prova uns 3km mais gordo hahahahhahahahahahahhaa No final você come tudo o que te derem. Verde que te quero verde. Vi de longe a munhequeira verde. Era ela que faltava para terminar a prova. Última vez que veria os amigos e a família antes da chegada. Eles gritavam: “Só faltam 10km, isso é façinho pra você, volta logo que estamos aqui te esperando, vai Le, vai!!!!” Muita emoção. Noite, escuro, frio, rezar, chorar, passar o filme todo da sua vida na sua cabeça. Eram muitas horas se concentrando e pensando em toda a sua vida. Eu estava terminando a prova, quando faltando menos de 2km para a chegada encontro: Lu, Sidney, Edu, Fernanda e Daniel, que ainda carregava uma roda nas mãos.
Gritei para eles: “EU CONSEUI, EU CONSEGUI! ”
Entusiasmados com minha alegria, me acompanharam até quase a chegada, correndo ao meu lado. Conseguem imaginar isso? Um atleta chegando com mais cinco pessoas que correram mais de um km gritando feito malucos?!!! E eu só perguntava: “Cadê a chegada? Cadê a chegada?” E eles respondiam. “Você esta vendo aquelas luzes lá na frente?” respondi. “La na PQP? Ta muito longe, ta muito longe!” Acho que faltavam só 500m, mas não chegava nunca. Kalassa e família também estavam por lá, Isabel, Lívia, Deise, todos, todos torcendo. Finalmente vi meu marido e meus filhos. Dei uma mão para cada filho, diminuímos os passos para sairmos sozinhos na foto da chegada, pois outro atleta estava chegando também com sua família. Cruzei a linha de chegada: 13h44minutinhos. Eu havia conseguido.
Eu agora era uma IRONWOMAN. E disse a todos o que havia combinado dizer ao cruzar a linha de chegada. “EU SOU FODA! EU CONSEGUI”
Naquele momento, ao abraçar e beijar meu marido, meus filhos, tive a certeza de que não existe desafio algum que não posso superar, não há limite que não posso ser superado e que se você acredita em você, você tudo pode. Se você realmente se dedicar, se você buscar, se você tiver apoio de amigos e família, acima de tudo, indiscutivelmente parte de toda uma estabilidade emocional, e tiver fé em Deus, você consegue.
Foi uma das maiores emoções de toda a minha vida. Foi o maior prêmio de minha vida, receber aquela medalha, abraçar minha família e amigos e conseguir realizar meu grande sonho no esporte.
Podem ter certeza absoluta que estarei lá novamente em 2009 e no que depender de mim, incentivarei e ajudarei outros a estar lá também, pois só quem viveu todos aqueles momentos sabe o que uma verdadeira superação de limites, o que é alcançar algo a que você tanto se dedicou.
Mesmo com todas as dificuldades de trabalho, vida social, família, sono, cansaço físico, eu consegui!! Eu consegui!!! Eu sou uma IRONWOMAN !!
Obrigada meu marido Márcio por todo o seu amor, muita paciência e acreditar que eu realmente comp