RESULTADOS

09/02/2014

TRILOPEZ NO CRUCE DE LOS ANDES !!

Nos dias 06, 07, 08 e 09 de Fevereiro, aconteceu numa fronteira do Chile para Argentina, o CRUCE DE LOS ANDES. Essa incrível prova, já virou tradição dentro da TRILOPEZ ao longo dos anos. Acompanhem abaixo os atletas participantes nessa incrível prova: - Ana Ono/Dalva Oliveira; - Andreia Pardini/Patricia Santos; - Prof. Daniel Costa/Alexander Greif; - Daniel Pagnozzi/Edson Rodrigues; - Julian Eguren/Ernesto Fuser - Edélcio Costa (solo) - VICE-CAMPEÃO CATEGORIA 50/+ Segue abaixo alguns relatos: ""Dieguito Eu abandonei hj. Não deu para meu joelho. Alex e Dani chegaram super bem Mais ainda não estão no hotel Ana, Dalva e Paty desceram juntas. Ana com dor no tornozelo. Paty e Dalva sem dor alguma, praticamente. Julian também super bem, parece que nem Tava na prova Prova duríssima onde muito abandonaram por hipódromo Hipotermia no primeiro dia onde corremos sob frio e chuva extremos nunca visto igual na história do Cruce Prova muitíssimo desorganizada e TODOS muito desapontados. Nos de primeira vez e Julian não acreditamos na situações que nos colocaram. Como não fiz hj cheguei antes ao hotel e aguardo todos. Julian irá para Villa Langostura Beijos"" ANDRÉA PARDINI ""El Cruce 2014 Sempre quis fazer essa prova. Desde 2007, quando meu amigo Vainer Pedra, fez dupla com Edith. Ele me passou todos os equipamentos: saco de dormir, roupa de chuva, alumínio, até o tênis – não serviu, era muito grande. Então, de lá para cá, era meu sonho. Por ser uma prova top, organização impecável, percurso maravilhoso, enfim, um sonho. Foram passando-se os anos e fui dando prioridade a outras provas, mesmo porque, para fazer o Cruce, precisava de grana, uma prova caríssima. Um gasto de mais ou menos seis mil reais, incluindo passagem aérea, estadia, inscrição e alguns outros itens, como tênis apropriado, roupa de neve, bastões, mochila para hidratação. Os anos foram passando e eu não conseguia me programar. Até que, no segundo semestre de 2013, depois de ter participado de uma prova, considerada a mais difícil do Brasil, primeira edição aqui no Brasil, La Mission, 40km de montanhas, fui convidada pela nobre Colega Ana Ono – nobre porque ela é de uma nobreza sem tamanho – a ser sua parceira no Cruce, depois de ter tido problema com duas parceiras anteriores: Manuela e Lenise. Manuela, por questões de mudança e sem tempo para treinar e Lenise, logo no segundo treino lesionou o joelho, então eu seria a terceira opção. Senti-me lisonjeada e muito sortuda pelo convite. Primeiro, porque Ana, é pessoa super organizada, peguei tudo mastigado, tudo em ordem, porque essa prova carece de uma logística sem igual. Segundo, tive desconto na inscrição e na estadia, porque Manu havia pago um certo valor. Nossa! Fiquei maravilhada com a ideia de ir para o Cruce, assim, tão de repente. Fiz dois, três treinos com Ana, estava bem. Finalmente, chegou o grande dia: embarcamos dia 4 de fevereiro para Santiago com Conexão para Puerto Montt, depois mais uma hora e meia de carro até Puerto Varas, local da concentração dos atletas. Chegamos com muita chuva e com a temperatura por volta de 8 graus. Dia 5, entrega do kit, Congresso Técnico, passeio pela cidade – muita linda – e entrega das malas para o acampamento, tivemos de carregá-las até o local de entrega, mais ou menos três quilômetros. Quando chegamos para entregar, vimos que esquecemos de colocar o número nas malas, Ana voltou correndo até o hotel para pegar o número. Enfim, malas despachadas, não tinha mais volta. Dormir cedo, para, no dia seguinte, sair às seis da manhã a caminho da largada. Dia 06, quinta-feira. Acordamos as 5h15 e às seis horas estávamos já dentro de ônibus que saiu pontualmente no horário. Até aí tudo bem. Chegamos no local da partida dos ônibus para a largada, por volta das 7h30m. Estava muito frio, sensação térmica de uns 5 graus e ameaça de chuva. A largada teve inicio às 8h. Largaram, creio, seis filas com seis atletas, depois disso deu uma travada – aguardando o helicóptero para fazer a cobertura – e só voltou a largar às 8h30h. Ufa! Até que enfim largamos. Percurso beira lago, areia fofa, não dava muito para correr. Areia segurava muito. Começamos a subir. Esquentamos e fomos tirando os agasalhos. Subida, subida...Começou a chover e vento forte e a sensação térmica -5. Colocamos o agasalho, corta vento. Não era um agasalho quente ou próprio para o momento. Começava o caos. Resolvi pegar uma barra de cereal na mochila, para ver se passava o tempo. Tirei a luva e peguei a barra de cereal e quem disse que conseguia colocar de volta as outras barras e fechar o zíper da bolsa. A própria barrinha estava uma pedra de gelo. Minha mão estava congelada e meus dedos não esticavam. Até aquele momento não tinha conhecimento da gravidade da situação. Começou a me bater um desespero, minhas mãos cada vez mais congeladas. Estava com calça com bolso, coloquei as barras no bolso e pedi para Ana ajudar a colocar a luva. Assim que ela colocou eu disse “vou dar um trotinho para ver se esquento”. Não conseguia trotar, meus pés congelados. Disse para mim mesmo: “E agora, que faço?” Comecei a fazer uma retrospectiva da minha vida. Só pensava em minhas filhas. E os dedinhos nada de esticar... Essa situação, deve ter durado uns 40 minutos ou mais... Se durasse mais uns 15 minutos corríamos o risco, de todos, ter hipotermia coletiva – mais tarde no acampamento, todos relataram o desespero, as piores e mais diversas situações. Chegamos no topo, havia uma voluntária do evento e perguntou se estava tudo bem, eu disse que estava congelada. Então ela respondeu: “Agora é só descida”. Graças a Deus. Começamos a descer. Ana é boa em descida, socou a bota. Fui encontrar com ela bem embaixo, em uma estrada reta, super gostosa de correr. Quando nos encontramos – fui ao matinho – Eu disse: “Ana quase morri lá em cima...” Aí ela começou a rir e disse: “Eu também. Pensei que ia enfartar. Meu lado direito paralisou, minha boca entortou, foi um desespero só...” Ai tivemos uma crise de riso, porque sentimos as mesmas coisas e ficamos firmes... Foi uma situação que nunca mais quero passar. Fui ao extremo do extremo. Mas vencemos essa etapa. Chegamos no posto de hidratação km 22. Muita fruta, água. Em seguida entramos mato adentro com lama até o joelho. Lama estranha, grossa misturada com areia vulcânica. Atolava e tinha de fazer maior esforço para tirar o pé atolado... E assim fomos, lama, lama e mais lama... Chegamos numa mata mais fechada, de repente todos pararam. Ficamos sabendo que havia tipo um desfiladeiro com uma corda onde podia descer apenas um atleta. Ficamos ali parados mais ou menos uma hora e meia. Outro momento tenso. O frio foi chegando, já estávamos todos molhados, foi congelando de novo. Pegamos o cobertor térmico – alumínio - e colocamos em contato com a pele. De repente a fila começou a andar. O organizador com receio de os atletas entrarem em estado de hipotermia resolveu abrir mais um pequena clareira ao lado da corda. Você só via atleta despencando até o fundo, de “bunda”. Ana quebrou seu bastão nessa descida. Depois dessa situação mais alguns quilômetros de lama. Aí passamos por dois campos de margaridas, lindos. Avistamos o acampamento, faltavam 4 km. Nossa! Esses quatro quilômetros foram dolorosos. Ana já começava a ter dores no tornozelo. Cruzamos a linha com 8 horas de prova, 45km., a principio seriam 39. Alex e Dani haviam chegado e fomos recebidos por eles. E o frio continuava. Fomos direto para o lago gelado ficamos uns quinze minutos na água, tremendo de frio, mas era necessário para ter menos dor no dia seguinte. Jantamos. Muita fartura. Nessa parte, organização impecável. Churrasco, massa e muita fruta a vontade. Ficamos aguardando Paty e Deia. Deia desistiu da prova faltando dois quilômetros para cruzar a linha de chegada, com muita dor no joelho. Dez horas estávamos na barraca para acordar no dia seguinte às 6h. Dia 7- Sexta feira. No briefing o organizador disse para agasalhar bem que estava previsto frio ao extremo. Colocamos tudo que tinhamos direito. Das 6 as 7 café da manhã e das 7 às 8 entrega da mala para o próximo acampamento e a partir das 9 saída dos ônibus para a largada. Pegamos o ônibus fomos para a largada. Aproximadamente duas horas de ônibus – alguns ônibus erraram o caminho. Chegamos próximo a largada. Caminhamos três quilômetros até chegar na largada. Estava chovendo, mas não frio extremo como disse o organizador. Mudança de percurso por causa das condições climáticas. Em vez de 33km, seriam apenas 23. Todos jogaram um pouco da água fora, deixaram comida para trás para diminuir o peso da mochila, seriam apenas 23km e passava muito rápido. Começamos a correr e o sol abriu – onde está o frio extremo? Ana estava com dificuldade para correr, andava e trotava quando dava. Fomos... De repente calor insuportável, fomos tirando blusa, blusa, blusa, gorro, luva... Ai percebemos que chegamos no km 12: a elite – atleta de ponta - estava voltando. Alguma coisa estava errada. Os 23km transformaram em 35, mais os três que andamos ate chegar a largada, 38 no total. Isso, sem água, sem comida. Porque deixamos para trás. Ana pegou água de um riozinho e colocou pílulas de filtração – não lembro o nome. Esqueci-me de dizer, já que Deia quebrou, Paty nos acompanhou. Deia foi até a metade do caminho e voltou. Nesse dia subimos morro e descemos até a margem do lago, lugar difícil para correr, cheio de pedras. Andava e trotava. Até que cruzamos a linha. Nossa indignação era de que não havia hidratação, nada, nada na chegada - Sem contar que largamos mais ou menos meio dia e quando conseguimos entrar no ônibus de volta para o acampamento eram quase oito da noite - Com fome, sede. Fomos para a fila do ônibus a caminho do próximo acampamento. A previsão era chegar no acampamento mais ou menos dez e meia da noite. Pegamos o ônibus oito da noite. Isso todos indignados porque que não tinha estrutura na chegada. Depois de ter rodado alguns quilômetros o ônibus parou, porque o da frente havia quebrado e não tinha como ultrapassar. Enfim chegamos no acampamento meia-noite-meia – havíamos feito planos de tomar banho no lago, porque antes estava calor – com frio, com fome e muito indignados... Fomos recebidos pelos meninos, Edson e Pag e Deia. Obrigada! Amo vocês! Foram super bacanas. Cheguei chorando. Edson levou minha mala para a barraca, Pag colocou comida para nós e Deia deu colo. E naquela noite do jeito que estávamos fomos dormir. Sem banho, roupa suja e suada. Não quis nem saber. Fechamos em seis horas os 38Km. Dia 8 – Sábado. Ultimo dia. A roupa com que dormi, já corri com ela. E a chuva caindo forte e nós atolando no barro. Como o dia anterior, foi muito estressante. Fomos comunicado de que iríamos correr apenas 25 em vez de 31. Mas nessa altura não acreditávamos em mais nada. Fomos para a largada às 10hs. Chuva, chuva e mais chuva. Largamos. Nesse dia Ana disse que ia andar porque estava com muita dor. Começamos a subir morro. Sobe, sobe e sobe...Tudo com muita neblina. No alto do morro o vento forte dissipava um pouco a neblina; aí você constatava uma paisagem de tirar o fôlego. Montanhas maravilhosas. Estávamos, acredito, perto de um vulcão. Começamos a descer aquela areia grossa e pedra entrando no tênis. Concluímos a montanha, paramos para tirar as pedras e areia dos tênis. Entramos em uma trilha, sinceramente não sei o que deu em Ana. Ela disparou na frente e foi embora, eu e Paty atrás... Assim foi, lama, troncos, enxurrada, vários tombos, passamos muitos atletas. Ana de vez em quando dava um gemido, mas não queria nem saber, acredito que a vontade de chegar era mais forte. De repente perguntei quanto faltava, estávamos no km 19... Ai veio novamente aquela força em Ana. Descemos igual um tiro aquela trilha, chegamos em uma estradinha... Ao longe avistei umas bandeirinhas. Será a chegada? Era. Apressamos o passo e cruzamos a linha chorando depois de 4 horas esse percurso. Detalhe: entramos no ônibus até a chegada oficial para pegar a medalha. Quando descemos do ônibus tínhamos de correr mais 2km., para cruzar novamente a chegada, pegar medalha, tirar foto. Pegamos ônibus de volta para Puerto Varas, mais quatro horas. Chegamos no hotel oito horas noite. Dois dias sem tomar banho. Quando entrei debaixo do chuveiro foi a melhor coisa do mundo. Quando deitei naquela cama maravilhosa, era como se estivesse sonhando e acordei naquele momento. Valeu muito a pena. Pela dificuldade da prova, que foi desafiadora, pela companhia dos meninos, Dani, Alex, Pag, Edson, Paty, Deia e a minha querida Amiga Ana, a quem devo tudo isso e a quem dedico este depoimento; também agradeço ao meu mestre Diego Lopez, se não fosse ele, não teria ganho esse presente. Muito obrigada a todos! Não tenho palavras para descrever o que sentimos. Só quem esteve lá sabe decifrar esse sentimento. Aqui está meu depoimento. Lição que tiro dessa prova: o ser humano é imbatível e determinado. Quando quer consegue! DALVA OLIVEIRA