RESULTADOS

01/09/2012

PARABÉNS PELO ESFORÇO NO MONT BLANC GRANDE NISHIZAKI !!

QUERIDO NISHI, TODA TRILOPEZ PARABENIZA MUITO O SEU DESEMPENHO NA PROVA DO CCC EM MONT BLANC REALIZADA NOS DIAS 31/08 e 01/09. FOMOS COM TUDO !! VALEU !! Segue abaixo o seu relato: Review – CCC Mont Blanc 1. A prova Dura. Completa tem 100km, com 5 subidas monstro, com grande inclinação (desnível forte e extensão relativamente pequena) e 1 subida mais leve, mas bem mais forte do que o Jaraguá, por exemplo. Exceto nas cidades, o terreno é trilha, na maior parte do tempo são single tracks de boa qualidade, boa parte do tempo em descampado, mas também com longos trechos em mato mais fechado. Alguns trechos em estradas de terra e, nas cidades, os trechos com asfalto. A subida de Bovine, no entanto, tem trechos com pedras grandes mais árduos (e onde eu só subi por ter boa flexibilidade nos quadris). Em geral, os problemas de grip com lama se deram por conta da chuva que caiu de forma inclemente boa parte do tempo, especialmente à noite, quando o terreno acabou ficando encharcado. Nesses mesmo trechos, se estivesse seco, dificilmente teríamos problema. Como muitas das subidas e descidas são fortes, muitos zigue-zagues. Pega-se muito trânsito nas trilhas, especialmente no começo da prova, já que é difícil ultrapassar num single track. Bem sinalizada, mesmo à noite no escuro sempre havia uma sinalização visível a indicar o caminho. A organização é ótima, mas esse negócio de trocar trajeto por causa do clima mexe um pouco com a estratégia da prova. De resto, os ônibus entre os postos de 3 países, a comida praquele batalhão de gente semimorta, a festa em Chamonix, a estrutura, tudo isso é realmente impressionante. 2. Equipamento. Acho quase imprescindíveis os bastões de caminhada e devido ao terreno escorregadio, você os utiliza tanto nas caminhadas em subida como nas corridas em descida, praticamente não sendo necessário guarda-los no porta-bastões da mochila. Os tênis devem ser de trilha, mas acabei usando os tênis mais light e confortáveis que tinha (Nike Alvord). Foi uma boa escolha. Os pés terminaram inteiros e onde não tinha grip, não tinha grip pra qualquer tênis. É interessante que o tênis não escorregue nas pedras molhadas, ou seja, que a borracha tenha um bom agarre, porque são trechos perigosos. As roupas que a organização prevê e coloca como itens obrigatórios são obrigatórias mesmo. Mas naquela chuva não tem impermeável que resista. Fiquei molhado no final. Boné é uma boa pra proteger alguma coisa de visibilidade nos óculos (para quem usa), mas é impraticável com a headlamp. Gorro tem que ser bão mesmo, porque faz frio de verdade. Tem que sair com luva fina pra não estourar a mão com os bastões e luva grossa, quando virar a noite e começar a fazer muito frio. A mochila aguentou bem, mas acho que era muito grande (20L). Levei muito mais comida do que usei também, a comida da organização, pra mim, dava pro gasto. No quesito caneca (item obrigatório) recomendo levar uma “de verdade”, e não a caneca de plástico dobrável da própria UTMB, que é ruim de usar e não fica de pé sozinha numa mesa. Minha headlamp era ótima também, mas leve pilhas reservas e pilhas reservas das reservas e use a potência total. Porque é tudo escuro mesmo, e com chuva e os óculos molhados e minha cegueira noturna, quanto mais visibilidade melhor. Uma dica é comprar alguns desses equipamentos lá, especialmente aqueles que você não usa em treinos aqui, tipo a calça impermeável ou a própria headlamp. É muito mais barato. Por fim, um negócio que funcionou bem: comprei lá uma polaina da Quechua para evitar pedrinhas nos tênis. O problema é que a polaina não aguentou e estourou, mas enquanto durou, foi sensacional. Não só ajudou a não entrar pedrinha de trilha, como ajudou a proteger da água da chuva. Meu pé só molhou à noite, quando começamos a pegar lama mais funda e quando a polaina estourou de vez. Por fim, não pode esquecer vaselina, papel higiênico e esparadrapo. 3. A estratégia. Na prova a largada é ondas e se você ficar na última, como eu, vai ter problemas. Problemas com trânsito nas trilhas, problemas porque os cortes não consideram os 20 minutos que você perde até largar efetivamente. Eu queria me preservar muito no começo, mas por conta do apertado primeiro corte (cheguei faltando uns 15, 20 minutos), acelerei um pouco. Na hora não senti, mas depois eu devo ter me queimado um pouco. Tem que segurar, tem que administrar com os cortes. Eu continuei acelerando depois e acabei abrindo mais de uma hora nos outros cortes, mas não adiantou nada se depois quebrei, não é? A tática de sempre é o anda na subida e corre no plano e na descida, mas sem forçar. Foi o descer forte que me estourou os quadríceps e me tirou da prova. E é bom descer com os bastões, (eu os guardei nas primeiras descidas longas para ir mais rápido) para ajudar a segurar no estímulo excêntrico muscular. Acho também que comi pouco entre os postos, deveria ter comido mais durante a prova, mesmo sem fome. Sobrou muito gel, bisnaga, barra... mas tomei as duas doses de Endurox R4 e funcionou bem. Tomei bastante coca-cola nos postos. O isotônico deles é intragável, mas tomei na marra. 4. Os treinos Achei os treinos bons. O negócio de subir escada foi excelente. Tinha força pra subir muito mais ainda, na hora que abandonei. Eu só tentaria, de alguma forma, treinar um pouco mais descida, por causa da “segurada” dos quadríceps. Acostumar com o peso na mochila foi essencial, durante a prova ela estava leve, apesar de ter ficado com os ombros um pouco doloridos. Nos longos, a idéia era sempre termina-los inteiros, mesmo que isso significasse pouca quilometragem. Fazia força nos treinos de qualidade durante a semana. Acho que deu certo. Estava tão bem em forma que bati meu recorde pessoal da meia maratona com sossego. A musculação foi adequada também. Mesmo com as dores no quadríceps, sinceramente acho que dava pra continuar, fisicamente. Meu organismo tava bem, não senti tontura, dor de barriga, enjôo, dor de cabeça nem nada de diferente. A urina tava bem, funções fisiológicas ok. Perdi pra minha cabeça, minha insegurança, mas só tive convicção disso depois da prova, quando amanheci fisicamente muito bem. Embora os longos fossem “pequenos” em relação à distância total da prova, achei interessante esse negócio de treinar relativamente pouco e não chegar com desgaste pra prova. Pra mim, funcionou. Mesmo que tenha desistido, sei que não desisti por falta de treino, mas por uma situação específica mental. Talvez tivesse que treinar mentalmente mais, mas acho que o que pesou um pouco foi minha relativa inexperiência em provas realmente duras. 5. Impressão geral A prova é “fazível”. Não é impossível, um mito saiu da minha cabeça. E falo isso não só por mim, mas pelos outros trilopenses casca grossa. Quem tem gana pra fazer um IM, faz essa prova. Talvez o sono seja um problema para alguns, mas pra mim não é. A dureza da prova é grande, mas encarável. Neste ano, o CCC foi quase tão difícil quanto a UTMB clássica, por conta dos cortes que a organização fez nesta última e porque os UTMBs acabaram pegando condições climáticas melhores. Dos 166 da clássica, ela acabou tendo só 108 e todos na França, sem encarar os morros doídos da Suiça e da Itália. Lógico que tiveram morros, mas a altimetria acabou sendo bem favorável para quem tava hipertreinado para uma prova de 9000m de desnível (na real, não sei quanto foi, mas acabou sendo bem menos). Na UTMB clássica eles não pegaram neve e embora tenham largado com a chuva miserável da sexta à noite, a mesma que me assolou na Suíça, acabaram sendo premiados com um resto de prova seco. A imprevisão faz parte da prova. Podia ter acontecido o contrário. Aliás, acho até que a TDS, que foi um dia antes da minha, foi mais difícil que a UTMB, já que praticamente o percurso total dela foi mantido (112km), assim como a pesada altimetria (7000m de desnível). 6. Conclusão O que faltou? Administrar melhor o começo de prova? Ter sorte? Ter apoio? Alterar um pouquinho o treino? O pessoal que tinha apoio e pegava roupas sequinhas nos postos de troca, além da comida combinada com seus staffs, estavam em situação muito melhor que a minha, evidentemente, até mesmo porque não tiveram que carregar tanto peso e comida. Mesmo sem ninguém a apoiar, dá pra fazer. Sempre dá pra melhorar alguma coisa e as experiências ajudam nisso. Tenho certeza que sou mais duro e resistente do que muitos dos caras que terminaram a prova, mas não fui mais duro que eles nessa prova. Paciência.