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02/04/2012

DIÁRIO DE PROVA - MARATONA DE SANTIAGO BY LUIZ ORLANDINI !!

Diário de prova - Maratona de Santiago 2012
 
A Preparação
Iniciei minhas atividades com a TRILOPEZ exatamente em Abril de 2011, após ter passado um curto período treinando sozinho. Nunca havia corrido antes na minha vida, e, por sinal, odiava correr... Comecei a fazer caminhadas, trotes leves por recomendação médica (o stress mata), e acabei por fazer algumas provas curtas, porque pelo menos a idéia da “competitividade” colocava um pouco mais de graça na coisa.
 
Com uma atenção bastante individualizada, baseada no meu quadro físico e histórico de lesões, a Equipe toda de treinadores, com maior proximidade do Gabriel Bastos e do DIEGUITO, começaram a ministrar os programas de base, funcionais e treinos com foco nos percursos de 10Km. Realizei apenas uma prova de 10Km pela Trilopez e já parti para a Meia-Maratona (21Km); 
Foram 4 provas em um período de 6 meses e à partir do final de Janeiro/2012, iniciei a planilha com o ciclo de treino específico para Maratona.
 
Treinos bastante desgastantes, que me fizeram inclusive diminuir/parar com parte das atividades paralelas do Triathlon (natação/ciclismo), para o qual estou buscando me condicionar também.
 
A Escolha da Prova
 Com base em conversas com vários atletas da equipe, sobre as provas e os países em que elas acontecem, planejei fazer duas Maratonas em 2012: SANTIAGO e BERLIN.
 
O Objetivo em Santiago era ser um Finisher à principio, pois, somente assim eu saberia como reagiria meu corpo à quantidade de quilômetros e tempo sob stress. E iria para Berlin com a missão de fazer um tempo próximo de 3h30’
 
Escolhi Santiago como Debut, pois, imaginei que sendo os primeiros 23 km da prova, subida constante e progressiva, eu teria mais potência para empregar nesta Km com a qual já me sinto bastante adaptado e que depois na descida qualquer santo ajudaria na performance... 
Pensei que seria bom ter esta descida exatamente numa fase da corrida que o treinamento não cobre, pois, a planilha de treinos vai até 32Km e você só vai descobrir o que são estes 10Km na prova mesmo...
 
Durante os treinos para a Maratona, um problema crônico em meu tornozelo, que eu já sabia existir (perda ligamentar), mas que para provas de menor distância não representava um problema tão grande, começou a se mostrar bastante restritivo para as longas distâncias. 
Já não dava mais tempo para desinchar entre um treino e outro. 
Resolvi cancelar Berlim e marcar cirurgia para Set/Out para reconstituir os ligamentos.
 
A Estratégia
 Tendo em vista minha desistência para da Maratona de Berlim, intensifiquei os treinos para reajustar a meta para Santiago: Fazer um Sub 4h.
 Chegando em Santiago, e analisando o percurso e a altimetria da prova, me dei conta de que seriam 32Km de subida e não 23Km... E me deparei com um calor muito forte, fora a ausência de humidade.
 
Com base nisto, minha estratégia foi: 
Fazer uma prova segura para bater a meta. 
Ser conservador. 

Isto é meio difícil para mim, mas, uma das coisas que as corridas mais tem me ajudado, é a controlar a ansiedade. Estou longe ainda do ideal, mas estou treinando !
 
Pré prova, fui acometido por algumas crises de ansiedade. Antes do inicio da prova eu estava uma pilha... 

Pessoas que pouco me conhecem ainda, como o Domingos (um grande corredor, com muita experiência), por exemplo, no último treino aqui no Brasil já me alertava: Controle sua ansiedade !
 
Enfim, com estas palavras em mente e tentando ao máximo fazer uso delas, iniciei os 42 Km procurando aumentar progressivamente o pace nos primeiros 10Km até estabilizá-lo num ritmo confortável e assim o fiz, passando os primeiros 21Km bastante inteiro, musculatura e fôlego, com 1h50’ aproximadamente, com a nítida sensação de que poderia ter apertado mais o pace e ainda teria alguma reserva.
 
Senti uma queda de rendimento em um trecho mais íngreme entre o 21o. e o 23o., e partir do 28o. meu emocional começou a “conversar” mais seriamente comigo... Deixei-me afetar um pouco com a ""quebradeira"" generalizada que começou a acontecer na prova. Vi pelo menos uns 3 corredores de “camisetas amarelas” de uma das maiores assessorias esportivas do Brasil, contorcerem-se em câimbras nos canteiros. 

No km 32: 
Houston, we have a problem.
 Cheguei no topo do circuito com tempo para fechar perto de 3h50 confortavelmente, porém, eu não tinha mais controle absoluto sobre mim. Metro a metro, sentia que o meu corpo, como se quisesse me defender de algo pior, ia desligando chavinha por chavinha dentro de mim... Sentia-me sem energia... 
Passei a parar e caminhar km a km por de 30 segundos a 1 minuto. 
A retomada à corrida era indescritivelmente dolorida. Eu não sabia o que era pior... Pensava na dor que sentiria se parasse novamente...
 
Passei a me desidratar mais, pois, foram 10 Km chorando (literalmente), travando maxilar, passando o braço no nariz que começou a sangrar... O Pace despencou para a casa dos 8x1.
 
O Tornozelo esquerdo começou a me pedir para parar. 
Na Minha paranoia eu já podia até falar com ele... 
Pedi para ele aguentar mais um pouquinho que eu iria ver o que fazer para aliviá-lo.
 
Comecei a carregar pelo menos 70% dos meus 87kg na minha perna direita. 

No 38o. o menisco do joelho direito começou a mostrar que não iria aguentar mais tanta pressão. Passei então travar um pouco mais as passadas, torna-las mais lentas, não empurrar tanto o chão para tentar poupá-los. 

O cara de bicicleta que carregava a bandeira de 4 horas se aproximava de mim... E quando ele passou, tentei ainda descontrair dizendo com voz de choro: 

- Por favor, fique pra trás de mim !!! 
Ele me ofereceu a garupa e eu quase caí em tentação.
 
Ver aquele cara abrindo de mim, me cortou o coração. 

Tentei apertar o passo, mas, senti que meu coração já não batia mais: APANHAVA. 

Meus batimentos pela primeira vez ultrapassaram 180. (O que é um bom sinal no quesito condicionamento) – Eles foram a mais de 200 em poucos segundos...
 
Era hora de jogar a toalha pra primeira meta, e pensar que antes da minha vaidade pessoal, havia a minha família, meus filhos... e ainda por cima a menorzinha, a Nina, como faz em todas as provas, estava aqui esperando o papai trazer a próxima medalha da coleção “dela”...
 Eu precisava terminar a maratona e trazer a medalha... 
Eu precisava terminar e trazer um número que eu pudesse correr atrás de melhorar na próxima.
 
Se eu apertasse mais um passo que fosse, eu não chegaria. 

No 40o Km. então, finalmente, ela também chegou: A câimbra no músculo posterior da coxa direita, por motivo da corrida mais travada. 

Os últimos 2 Km foi uma corrida de revezamento... de dores...
 Revezei entre o tornozelo, o joelho e a coxa, a missão de sofrerem um pouquinho cada um por alguns metros mais... E revezei entre a cabeça e o coração a missão de curar-me de qualquer frustração e de transformar aquele momento num momento de alegria e superação.
 
Cruzei o arco da minha primeira Maratona com minhas 4h08m e despenquei. 
Fiquei ali ajoelhado, chorando, sendo fotografado pela mídia sensacionalista !!! kkkkKK (nem quero ver estas fotos...)
 
Missão cumprida !
 
Foram 42km realmente muito especiais. Cidadãos maravilhosos que ficavam durante todo o trajeto com seus filhos, esperando a nossa passagem, gritando FORÇA ! NÃO DESISTA ! 
Pessoas que compraram água, frutas, doces, para ficar distribuindo para os atletas durante a passagem. Prova bem organizada desde a Largada, Bandas muito legais que faziam seus shows a cada 10 Km, postos de hidratação, esponjas, gel, enfim... 

Experiência única.
 
Obrigado novamente à todos os amigos e a alguns quero inclusive nomear e dar adjetivo:
 
Diego Lopez = Professor
Gabriel Bastos Abreu = Instrutor
Paulo Gomes Santana = Prático
Paulo Elias Goncalves = Referência
Eduardo Brunetti = Brother
Domingos (não tenho o Face, mas passem o recado) = Exemplo
 
E por fim, conheço há pouco tempo um camarada carinhosamente chamado pelos amigos de OGRO, mas que de Ogro não tem nada... gosto muito de caras SIMPLES e ele é !
 
Ogro Antonio Jr Longhi,
Obrigado pelo abraço da chegada e pela parceria.